Falta estrutura, profissionais, materiais e medicamentos nos frotinhas e gonzaguinhas. Situação dos hospitais secundários fez Ministério Público pedir auditoria de gestão. Prefeitura garante reforma em unidades este ano
Um hospital de traumato-ortopedia sem médico traumatologista. Um setor de acolhimento com portas fechadas. Pacientes – alguns sangrando – sem atendimento ou orientação. Enquanto a Prefeitura de Fortaleza afirma investir na atenção primária de saúde e vislumbra um novo fluxograma de atendimento, a rede secundária composta por frotinhas e gonzaguinhas agoniza.
O POVO esteve, por uma hora, na emergência do Frotinha de Messejana. Era uma segunda-feira. Entre 18h e 19 horas, pelo menos sete pacientes chegaram à unidade e não encontraram atendimento. Três deles já haviam passado por uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), dois esperavam há cerca de duas horas e a única informação fornecida era a de que “outra enfermeira chegaria às 19 horas”. Um dos pacientes era Manoel Pereira, 75, que caiu em casa e bateu a cabeça. Mesmo sangrando, a única atenção recebida por ele vinha dos outros pacientes.
“É melhor você ir para o Frotão (Instituto Doutor José Frota, o IJF)”, sugeria o porteiro, a quem coube a função de informar sobre a falta de traumatologista. De acordo com um médico cirurgião que trabalha na unidade há cinco anos e preferiu não se identificar, os problemas incluem ainda a não realização de ultrassom aos fins de semana, moscas nas salas de cirurgia, poucos leitos e falta de analgésicos, antibióticos, iodo e ataduras.
O gargalo de alguns hospitais da rede secundária de Fortaleza fez com que o Ministério Público Estadual decidisse pedir auditoria de gestão na Secretaria Municipal da Saúde (SMS). Uma audiência pública na última segunda-feira, 31, reuniu gestores de hospitais, que admitiram dificuldades no suprimento de medicamentos e na organização das escalas dos profissionais. A SMS deverá apresentar, nos próximos dias, um relatório sobre encaminhamentos tomados a respeito.
Atenção primária
A titular da SMS, Socorro Martins, destaca que os planos são de mudar a lógica que, hoje, faz o paciente peregrinar em busca de atendimento. A ideia é ter a atenção primária como centro da rede. “A rede secundária precisa ser vista também dessa forma, que ela seja um momento de necessidade do usuário, que busca a atenção de uma forma sistêmica do que precisa. E ele volta para atenção primária”, explicou.
Conforme a gestora, o primeiro semestre de 2015 será de reformas e intervenções em todos os frotinhas. “Os hospitais (incluindo gonzaguinhas) terão ampliação de leitos e melhoria da infraestrutura. Os frotinhas são prioridade. Esses hospitais têm cerca de 50 a 60 leitos e, para serem eficientes, precisariam ter uma média de 250 leitos”, avaliou. O objetivo, conforme a secretária, é adequar os hospitais para que eles possam dar conta da retaguarda das UPAs (hoje existem nove em Fortaleza e mais três deverão ser construídas este ano).
Sobre a situação constatada no Frotinha de Messejana, Socorro Martins afirmou que pode ter sido um problema pontual, porém, reconheceu que há deficiências de estrutura e no quadro de pessoal. “A gente sabe que quando falta um profissional, complica para as UPAs e o plantão do IJF. Isso demonstra a importância dessas unidades (os frotinhas) para a rede”.
Saiba mais
Hoje, parte dos médicos que atendem nos frotinhas e gonzaguinhas tem contratação terceirizada, através de cooperativas. Conforme a Prefeitura, há dificuldade de contratação de ortopedistas e traumatologistas.
Um estudo está diagnosticando a carência de profissionais de saúde na rede de Fortaleza. Um concurso é prometido para 2015.
Foi aprovada, na Câmara Municipal, a proposta de projeto de lei que permite a criação de uma Fundação de Apoio à Gestão Integrada da Saúde.
Conforme Socorro Martins, “a fundação será uma grande possibilidade para os novos equipamentos e pretende dar flexibilidade e autonomia dentro do que a lei brasileira permite”. Ainda não há, entretanto, definições sobre o funcionamento da entidade.
Em entrevista à rádio O POVO/CBN na última terça-feira (30), o prefeito Roberto Cláudio afirmou que, até abril, será lançado um programa com 14 especialidades médicas para realização de exames. A expectativa do gestor é de que, em 18 meses, a fila dos exames “esteja controlada”.
Fonte: Jornal OPovo 05/01/2014
Reportagem: Sara Oliveira / Foto: Edimar Soares