O Sindsaúde Ceará denuncia que os hospitais comprados pelo Grupo Kora, no Ceará, estão massacrando os empregados que, além de sobrecarregados após uma onda de demissões, agora se veem obrigados a ir ao local de trabalho mesmo doentes.
Descaso com a saúde dos empregados e irresponsabilidade com a saúde da população. Dentro de uma pandemia, com a ameaça de uma nova variante da Covid-19 e ainda enfrentando um surto de gripe que está lotando os hospitais no Ceará, os gestores do Hospital São Mateus, Gastroclínica e Otoclínica, comprados recentemente pelo Grupo Kora, estão exigindo que os profissionais da saúde, em caso de doença, compareçam para consulta com o médico do trabalho e apresentem atestado presencialmente no prazo de 24 horas. Pela Convenção Coletiva de Trabalho da categoria, o prazo para apresentação de atestados é de três dias, podendo ser entregue por terceiros. “Com a pandemia, muitos gestores da saúde passaram a aceitar o envio do atestado por meios eletrônicos, assim como também passaram a disponibilizar consultas por telemedicina, com o objetivo de evitar circulação de trabalhadores doentes e proliferação de doenças como a Covid-19” – explica o assessor jurídico do Sindsaúde, Vianey Martins.
“Desde que esse grupo(Kora) comprou esses hospitais, a gente só tem recebido reclamações. É aumento de jornada, sobrecarga de trabalho, demissões e agora mais essa. Uma coisa é certa: cuidar da saúde não é prioridade para esses gestores” – afirma a presidente do Sindsaúde, Marta Brandão.
Com o surto de H3N2, muitos trabalhadores estão adoecidos e o aumento da demanda tem gerado ainda mais sobrecarga para quem continua trabalhando. Uma técnica de enfermagem que prefere não se identificar, relata uma situação dramática vivida nesta quarta-feira, 29/12, quando um paciente grave com sintomas respiratórios deu entrada no Hospital São Mateus. “Ele estava com muita secreção, instável, dessaturando e subiu sozinho com a família sem sequer ser testado pra saber se era Covid ou outra coisa… eu me paramentei com o que tinha, mas fiquei exposta por muito tempo a este paciente que estava no oxigênio, soltando vírus pra todo lado” – conta uma técnica que pede para não ser identificada.
Desde que o Grupo Kora assumiu a gestão desses hospitais, dezenas de profissionais da saúde foram demitidos e não foram substituídos.
Cobrada pelo sindicato, a área de RH da empresa respondeu com certa ironia, ao dizer que esta forma de entregar atestado médico permite maior aproximação da empresa com os empregados”.
O Sindsaúde Ceará está tomando todas as medidas cabíveis e, caso a empresa não cesse esta conduta abusiva quanto ao atestado médico, a denúncia será encaminhada ao Ministério Público, inclusive quanto à possível conduta criminosa de ajudar a propagação de doenças, considerando que a maioria dos afastamentos se dá por conta da síndrome gripal, com suspeita de H3N2.
Escute os áudios enviados por trabalhadoras ao Sindsaúde Ceará. As vozes foram distorcidas para manter o anonimato das denúncias.